Por: Mariah Coi

O auditório Dom Antônio Zattera sediou nesta quarta-feira (6) a edição deste ano da Conferência Regional sobre Soberania Alimentar. O evento reuniu representantes de 22 cidades da região e teve como tema “A Fome Voltou! Medidas Já”. Foram discutidas no evento políticas públicas para enfrentar a fome e a miséria no cenário atual. A atividade foi promovida pelos conselhos Municipal e Estadual de Segurança Alimentar, Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e prefeitura de Pelotas.

O evento contou com a participação da prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) em sua abertura e teve como painel principal o Contexto Estadual e Regional da Política de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Além disso, ao longo da tarde a conferência teve quatro eixos de discussões, sendo eles: Produção, Abastecimento e Acesso aos Alimentos; Educação Alimentar e Qualidade dos Alimentos; Políticas Públicas de Segurança Alimentar e Nutricional; e Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan).

Uma das organizadoras da conferência, Márcia Lemos, falou sobre a importância de se discutir a fome no período atual, onde a cada dia os índices de fome aumentam. “É importantíssimo realizarmos essa conferência para debater justamente essa pauta. Hoje nós temos um número de 33 milhões de pessoas que passam fome no país e aqui no Estado não é diferente. Precisamos, principalmente, ir em busca de políticas públicas para que a gente possa efetivamente resolver esse problema que a grande maioria das famílias passa”, pontua.

A organizadora reforça que o direito à alimentação não pode ser negado a aqueles que mais precisam. “Se as pessoas estão em uma condição de insegurança alimentar, é dever do Estado garantir que eles tenham acesso ao alimento, mas também a alimentos de qualidade. O ideal seria que todas as famílias pudessem ter no mínimo três refeições ao dia”, diz Márcia.

Quem também se envolveu no evento foi a médica pediatra Regina Nogueira, que também é coordenadora do Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matrizes Africana. Para ela o evento tem grande simbolismo. “Esse evento é resistência, poder ouvir as políticas públicas dos governos municipais e as muitas ações de solidariedade que cada organização faz para manter as pessoas comendo. Neste momento em que muitos estão pensando ‘será que eu vou ter comida amanhã?’, é muito importante”, finaliza.

Debate importante para a formação

Quem também aproveitou o espaço e os debates foi a estudante do 3º semestre de Nutrição da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Melice Canez. Ela conta que atualmente faz parte do projeto Hortas Urbanas, também da UFPel, que cria esses espaços em comunidades da cidade, e que foi à conferência para tentar dar visibilidade ao projeto. “A gente quer mostrar as hortas urbanas como uma alternativa à fome. Nós vamos às comunidades e às escolas e ajudamos a montar suas próprias hortas para que esse alimento seja gerado de forma gratuita”, defende Melice.

A jovem também acredita que debates como o de são vitais para a sua formação acadêmica. “Como futura nutricionista, é algo que bate muito de frente. Por exemplo, a carne é um alimento rico, mas que nem todo mundo tem condições de ter essa proteína de origem animal no prato. Então temos que pensar em quais substituições fazer”, compartilha a estudante.

Espaço para os produtores

Durante o dia, a atividade também abriu espaço para microempreendedores orgânicos e integrantes de projetos de produção de renda para que realizassem a exposição de seus produtos. Uma das pessoas que esteve no local foi a imigrante venezuelana Glendis Negrão. A empreendedora conta que a família veio do país vizinho para o Brasil em 2019 e que passou por outras cidades do país até chegar a Pelotas. Por aqui, a família abriu a sua própria marca de produtos de limpeza. “Desde que chegamos no Brasil tivemos a ajuda da Cáritas e estávamos sem renda. Então uma parceira brasileira nos ensinou como fazer produtos de limpeza e começamos aos poucos a produzir”, conta Glendis.

A partir daí, essa produção tem sido a forma de ter uma renda e sustentar sua família. Sempre que há a oportunidade, Glendis e sua mãe vão em feiras para vender os produtos. “Quando tem feira, quando a gente pode botar uma banquinha em algum lugar, estamos lá. Nós também vendemos em casa, onde temos uma banca, e saímos com a bicicleta oferecendo. Graças a Deus tem dado muito certo e temos recebido muito apoio”, finaliza.

Ainda durante o encontro, foram escolhidos os delegados que irão representar a região na Conferência Estadual pela Soberania Alimentar, que vai ocorrer nos dias 27 e 28 deste mês, em Porto Alegre.